COLUNA DO ZAZA










TEMPO
Paulo Zanon

Quando somos jovens
Pensamos que temos todo o tempo do mundo.
Um dia a gente acorda e vê que não é bem assim,
 Principalmente nos dias de hoje, quando o dia parece ter menos de 24 horas.

Tempo, é o que temos de menos hoje.
Aliás, o tempo que temos é o agora,
Pois o amanhã é incerto e é feito de probabilidades.

Então: 
Se tiver que dizer te amo, diga agora.
Se tiver que dizer adeus, diga logo.
Se tiver que abraçar, faça já.
Se tiver que beijar, beije!
Se caiu, levante-se
Se sonhou, acorde; realize.
Porque,
Todo tempo deste mundo
É muito pouco tempo!



O Milagre da empatia
Artur da Távola

O mais difícil dos sentimentos é o sentimento do outro. O outro é ele e és tu. Ele é realmente o outro ou é a parte tua que não queres ser, saber, ver ou aceitar? Tu és o outro para os outros, logo és igual a ele. Todos somos “outros”. E, no entanto o outro invade, ameaça, mastiga de boca aberta, irrita, eriça, machuca.
Até teu filho é o outro. E tu, pobre pretensioso, pensas que ele é teu…
O sentimento do outro quantas vezes te faz parar, meditar, deixar de fazer o melhor que tens ou podes, só porque o outro é o mistério que te ameaça. Por que o outro te ameaça? Porque és tu. Quanto maior teu sentimento do outro, maior será teu o sentimento do melhor e do pior que tens.
O sentimento do outro não é sentir por ele. É saber o que ele sente. É avaliar o como e o quanto ele sente. O sentimento do outro não é o masoquismo de fazer teu, um sofrimento que só a ele pertence. É dimensionares a medida certa do sofrimento dele e só poderes ajudar porque não fazes teu um sofrimento que é alheio mas o entendes e sentes, na exata medida de sua extensão, sem as marcas e as limitações da dor enquanto dói. Não é ficar como o outro. É ficar com o outro. O sentimento do outro é quase um milagre. Cuidado com ele, vai te obrigar a ceder, a entender. Atrapalhará para sempre teu desejo, tua gula e vontade.
O sentimento do outro é aquilo que é mais prático não ter. Mas, em caso positivo é contágio de saúde: não podes deixar de exercê-lo. Senão fermentas. Senão apodreces.
Ele freará tua vitória, calará teu brilho e tua boca, impedirá tua vaidade. Pode, até, te pregar a suprema peça de te fazer entender os detestáveis. Cuidado com ele! Quanto maior, mais anulador! Quanto mais anulador, mais repleto de grandeza.
O sentimento do outro, talvez te faça tímido, herói, cais, antena. Ser antena dilacera, sabias? O sentimento do outro te exigirá nervos, músculos, e uma paciência de anacoreta. Quanto mais o outro o perceba em ti, mais ele te invadirá, cobrará, exigirá, até quando, exaurido, ainda consigas juntar os cacos do teu cansaço para, ainda assim, prosseguir.
O sentimento do outro é tua glória e tua tragédia! Tanto mais o terás quanto encontres em ti os escaninhos escurecidos do que és e, ao mesmo tempo as luzes do que, ainda puro, brilha em ti.
O sentimento do outro é o conteúdo oculto do amor ao Próximo.








Abus Brasileiras
Paulo Zanon

Quando estava escrevendo o texto de início do blog, desta semana, falando sobre a peça “Palácio do Fim”, lembrei de uma das cenas mais fortes do espetáculo. É quando a personagem Abu Ghraib (Vera Holtz) esta sendo torturada junto com seus filhos, um de 15 e outro de oito anos. Este, depois de torturado, foi pendurando no ventilador do teto e depois jogado pela janela, neste momento Abu Gharib (num interpretação visceral da atriz) dá um grito, que ecoa no coração de toda platéia. Ao lembrar desta cena me veio à mente a morte do menino João Hélio e o pensamento de que o grito de sua mãe, o velo sendo arrastado, deve ter sido igual à de Abu. Para quem não se lembra, João teve uma morte traumática no mês de fevereiro de 2007, quando o carro em que ele estava com a mãe foi assaltado. Os assaltantes arrastaram o menino preso ao cinto de segurança pelo lado de fora do veículo.
Os anos foram se passando e outra crianças foram brutalmente assassinadas em nosso pais: Isabela, jogada pela janela por seu pai; os irmãos João Vitor e Igor, esquartejados pela madrasta; Lavínia, morta pela amante do pai, o meninos e meninas mortos na tragédia da escola Tasso de Oliveira. Estas são poucas das muitas crianças que a violência, que cada fez mais tem atingido nosso pequenos, tirou de suas mães brasileiras.
Então eu pergunto:
Quantas Abus brasileiras gritaram e ainda vão gritar por seus filhos?
Pátria mãe gentil, o que você está fazendo com teus filhos?! 





Dia da Consciência Humana
Paulo Zanon



No dia 20 deste mês foram realizadas as comemorações do Dia da Consciência Negra. No Rio de Janeiro foi realizado, neste dia, um evento no Monumento a Zumbi Dos Palmares, na Praça Onze. As festividades tiveram apresentação de rodas de capoeira, do Afoxé Filhos de Gandy e desfiles das escolas de Samba Unidos da Tijuca, de Vila Isabel e União da Ilha do Governador.
Mas do que lembrar a importância que o negro teve na formação do nosso país, esta data também serve com forma de protesto pela discriminação racial que ainda existe no Brasil. Para o historiador Flávio Gomes, do Departamento de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a escolha do 20 de novembro foi muito mais do que uma simples oposição ao 13 de maio: "os movimentos sociais escolheram essa data para mostrar o quanto o país está marcado por diferenças e discriminações raciais. Foi também uma luta pela visibilidade do problema. Isso não é pouca coisa, pois o tema do racismo sempre foi negado, dentro e fora do Brasil. Como se não existisse".
Costumo dizer aos meus amigos que tenho dificuldade em entender o racismo ou qualquer outra forma de discriminação. Não entendo, por exemplo, por que uma pessoa negra não pode entrar em um restaurante. Ela não trabalha e ganha honestamente o seu dinheiro como qualquer outra pessoa? A cor de sua pela vai influenciar no seu comportamento dentro do recinto? Em relação a isto tenho visto, nos noticiários, muitos brancos que entram em boates e restaurante para cria baderna e agredir outras pessoas.
Negro, homossexual, gordo, “feio”, o que qualquer umas destas características tem a ver com competência ou educação. Não consigo entender. Quando olho para uma pessoa eu não vejo o negro, o branco, o gay, o gordo ou o “feio”, vejo um ser humano.  Este ser humano pode ser branco e marginal ou negro e empresário; pode ser um pai gay, amoroso e que educa bem o seu filho ou pode ser um pai heterossexual que  espanca, trata mau e até mata o seu filho, ou ainda, pode ser um ser humano gordo, gentil e  educado ou um ser humano sarado, atlético, que agride negros e gays; também pode ser um ser humano “feio” (segundo os padrões de beleza vigentes) e dirigir  o seu carro com prudência ou um belo modelo que dirige seu carrão, com  imprudência, como se fosse o dono do mundo e acaba provocando  um grave acidente, matando seres humanos
Talvez devêssemos criar também o dia da consciência humana, para lembrar que somos todo iguais, com os mesmos direito e deveres para com nosso país e nosso Povo. Um dia para celebramos a adversidade de idéias e de comportamentos, que torna este Brasil tão rico de conhecimento e de cultura, um dia para nos lembramos que somos todos irmãos e que só nos respeitando e nos amando é que cada dia mais esse país, de fato, vai para frente.







Lembranças
Paulo zanon

Hoje, revirando minhas gavetas encontrei uma foto que tirei junto de uma famosa e bela atriz, com quem tive o prazer de contracenar, em um momento ator da minha vida.  Então me lembrei de um senhor que conheci quando eu era mais jovem, bem rapazinho, e morava lá em Petrópolis.
Um dia ele estava doente e eu fui visitá-lo e, enquanto lhe fazia companhia, ele me falou de como foi a sua juventude na cidade do Rio de Janeiro, onde trabalhou por muitos anos como cabeleireiro.  Da gaveta de um móvel antigo ele tirou uma fotografia, em preto e branco e autografada, de uma famosa atriz que foi sua cliente naquela época. A atriz era jovem, bonita e estava no auge de sua fama, no autografo se lia, “Um Beijo, com carinho Tônia”. Seus olhos brilhavam para aquela foto troféu. Durante todo o tempo em que estive ali ele falou e contou, embevecido e cheio de orgulho, de como aquela estrela entrou no seu salão, de como ela gostava dos cortes e penteados que ele fazia em seus cabelos; das estórias que ela contava e, com tristeza, da última vez em que Tônia foi e nunca mais voltou ao seu salão. 
Quando saí de onde ele morava, um quarto e sala alugado que ficava no fundo escuro de uma velha casa, fique pensado: E a sua própria estrela? O que ele fez com ela? Por que o olhar triste e solitário? Será que aquela foto, que hoje dorme e acorda com ele, foi à melhor e única lembrança do seu passado? E as Marias, Clarices e Anas que foram suas clientes, não tiveram importância para ele?  Seus amigos e família não fazem parte de suas lembranças?
Naquele dia prometi a mim mesmo que não iria envelhecer daquele modo, levando comigo apenas a lembrança de uma foto desbotada de uma atriz.  Prometi que, quando envelhecesse, teria no meu baú fotos de pessoas juntas a grande estrela do meu show, que sou eu. Também teria a lembrança das noites que sai com os amigos para me divertir, dos abraços que minha família me deu ao chegar e partir; dos beijos apaixonados dos amantes queridos; do livro escrito ou não; das tentativas de ganhar dinheiro; dos projetos que foram apenas sonhos ou realidade; das lágrimas, da raiva, da dor, do sorriso e da esperança.

Hoje , quando a velhice não esta tão perto, mas também não esta tão longe, como já esteve, diante desta foto que encontrei, faço mais algumas promessas: Vou continuar vivendo, sonhado e encarando a realidade, por mais feia, por mais dura ou por mais bela e mais luminosa que ela possa ser; vou encará-la sempre. Quando a velhice chegar, ou melhor, quando a melhor idade chegar, vou continuar me divertindo com meus amigos, recebendo os abraços da família, lendo muitos livros, dando beijos apaixonados e compartilhando minhas lembranças, que serão muitas e quando eu fechar os olhos pela última vez quero sorrir, pois estarei levando comigo muito mais que a uma velha foto desbotada de uma linda jovem, velha atriz.







Luto pela possibilidade da sutil diferença entre todos nós. O resto é a vulgaridade do igual



Como todo ser nascido homem, sempre busquei a confirmação de que de fato eu era um homem como esperavam que um homem fosse. Era questão de preencher as expectativas de como se definia homem. Não foi fácil, principalmente porque eu era filho de uma família de seis filhos, todos homens. E com muitas referências legais do que era ser homem na geração anterior.
Eu sempre me conferia com o que se dizia ser homem. Para meu tormento, eu nem sempre acertava. Eu não jogava futebol, não gostava de carros nem queria ser engenheiro; era canhoto, gostava de ler, de cinema... enfim, um menino esquisito, sensível, com grande chance de ser viado.
Com o tempo fui descobrindo que eu estava muito mais certo do que a régua que me atormentava. E acabei construindo, dia a dia, o ser humano que sou. Mas minha vida importa menos do que o que eu aprendi com ela.
Se eu fosse veado
Durante o tempo em que me perguntava quanto homem eu era, aprendi a respeitar a diversidade, não por virtude, mas por interesse, como garantia de que, se eu fosse veado, teria um mundo que me aceitaria como eu era.
Não precisei da tal garantia, mas tive um grande aprendizado que me tornou uma pessoa mais inteligente, mais bem informada, mais íntima da vida. Por isso agradeço todo o tormento que tive por não ser um homem como se esperava que um homem fosse.
Acredito na possibilidade de dois homens ou duas mulheres serem felizes como um casal. Até porque vejo isso acontecer com amigos e amigas. Luto por seus direitos. Mas, mais que isso, luto contra qualquer tipo de estereótipo ou preconceito que impeça a manifestação natural e espontânea do ser humano em todas as suas nuances e possibilidades. Luto pela possibilidade da sutil diferença entre todos nós. Aí reside a vida no seu maior potencial de beleza e encantamento. O resto é a repetição e a vulgaridade do igual.
Cada vez que vejo um executivo tentando preencher uma expectativa para a qual ele não tem o potencial, me vejo nele como aquela criança sofrida por não preencher as expectativas dos outros. Tenho dó, pena, e me dá vontade de sair metralhando todos esses consultores “heterofóbicos” que escrevem livros de aeroporto com modelos de “como subir na vida”.
Eduquei meus filhos para a diversidade não porque a diversidade é uma causa nobre, mas porque acredito que a felicidade deles reside no exercício pleno da sua individualidade. Aliás, é isso que nos põe juntos nesta trincheira querida que é a nossa Trip.
Ricardo.
*Ricardo Guimarães, 62, é presidente da Thymus Branding. Seu e-mail éricardoguimaraes@thymus.com.br e seu Twitter é twitter.com/ricardo_thymus


Imagem e texto publicados na Coluna: Outras Palavras -Revista Trip, n. 204, Outubro de 2011http://revistatrip.uol.com.br/